Entre um gole e outro de café, na imensidão silenciosa e noturna, provocada pelo descanso dos corpos, encontro-me... confortável para ser simplesmente a abstração de mim e de tudo que sou...um troncho e solitário cantar...o galo,seguidor de instintos,perfura o silêncio e o torna também extinto.E cá estou,respirando estilhaços de silêncio,tragando partículas sonoras da inércia parcial...respirações em transe,viagens etéreas...a fauna e a flora conversam pelas camadas das horas,o tempo,do tempo...ensaio imaginário,metamorfose da noite -a madrugada,recheio entre o dia,e a noite que deixa pingos de luz prateados penetrarem seu negro manto imperial,delineando silhuetas de transeuntes sedentos por degustá-la.Uma luz que não ilumina,rouba de mim as horas mortas...uma máquina emissora de luz,luzes que alienam...mas,não há perigo,ela também dorme,dorme e sonha sonhos de máquina.Um agitado silêncio ,vez ou outra invadido pela curiosidade sonora de algo ou alguém,faz-se pleno nestes milésimos insones vindouros...penso em expressões fonéticas que acompanhem o nascimento destas partículas imaginárias do tempo,que como estes fetos silábicos,tem a consistência do silêncio...o que é o tempo afinal?Que matéria compõe o silêncio?O silêncio é um som avesso, freqüências incorruptíveis, ininterruptas de som, derramamento de nada... silêncio!Meus pensamentos têm som de silêncio... há vida na noite madura de mortes diárias,o dia nasce e morre, ou dorme?À noite também?E, eu e você?O tempo, este líquido composto de anos, meses, horas, imagens, sabores, cheiros, sons... umedece nossos poros,em delicados movimentos,lentos...nos rouba suavemente com um beijo gélido e abrupto, o sopro da vida...rouba-nos gota a gota,de dentro dos nossos corpos,das fotografias,das conversas entre amigos,das gargalhadas em família,nos rouba de nós...de tudo,pouco a pouco,gole a gole...por fim somos dissipados,transformados,diluídos na composição do tempo...