quarta-feira, 29 de julho de 2009


Trilhei caminhos pelo teu corpo, usando os lábios como pés.
Ousei decompor-te a cada par tí cu la de mim, guiada pelas curvas incertas da epiderme...arranjo corpóreo de luz e calor... sons, movimentos... derramamentos de nós.
Iluminada parcialmente pela penumbra de meus pensamentos,resumida à partículas imaginárias do regresso,tento saciar-me com a fria matéria impalpável
que compõe as lembranças.Desejo o calor real do teu corpo,mas nem mesmo sei quem tu és...sigo desejando quem ,por hora,desconheço...

domingo, 12 de julho de 2009

Há vezes em que um simples buraco transforma-se num abismo, e toda teoria de força esfarela-se junto a poeira que um vento besta sopra, e então o que resta é procurar na carcaça resumida, uma migalha de orgulho pra se manter de pé. Os urubus da derrota sobrevoam nossas cabeças e tentam confundir o que parecia, até então, determinado. Daí em diante tudo se torna questionável, e mais uma vez o vento besta é notado... nossos valores são tão fajutos quanto nossa ilusória liberdade ,esta por sua vez, encontra-se retida em um sono eterno e inexistente ,uma idéia hipotética ,em algo que chamamos de sociedade.Uma sociedade que se organiza de forma repressora,minúscula e medíocre.Regendo sob notas repetitivas e alienadoras, uma massa de mentes subdesenvolvidas, desnutridas de consciência cultural e com uma história invadida por supostos heróis, promovendo uma secular contensão histórica e cultural, produto de um sistema que se alimenta das falhas contidas na “certidão de nascimento” de uma quase nação.

Estilhaços de silêncio...



Entre um gole e outro de café, na imensidão silenciosa e noturna, provocada pelo descanso dos corpos, encontro-me... confortável para ser simplesmente a abstração de mim e de tudo que sou...um troncho e solitário cantar...o galo,seguidor de instintos,perfura o silêncio e o torna também extinto.E cá estou,respirando estilhaços de silêncio,tragando partículas sonoras da inércia parcial...respirações em transe,viagens etéreas...a fauna e a flora conversam pelas camadas das horas,o tempo,do tempo...ensaio imaginário,metamorfose da noite -a madrugada,recheio entre o dia,e a noite que deixa pingos de luz prateados penetrarem seu negro manto imperial,delineando silhuetas de transeuntes sedentos por degustá-la.Uma luz que não ilumina,rouba de mim as horas mortas...uma máquina emissora de luz,luzes que alienam...mas,não há perigo,ela também dorme,dorme e sonha sonhos de máquina.Um agitado silêncio ,vez ou outra invadido pela curiosidade sonora de algo ou alguém,faz-se pleno nestes milésimos insones vindouros...penso em expressões fonéticas que acompanhem o nascimento destas partículas imaginárias do tempo,que como estes fetos silábicos,tem a consistência do silêncio...o que é o tempo afinal?Que matéria compõe o silêncio?O silêncio é um som avesso, freqüências incorruptíveis, ininterruptas de som, derramamento de nada... silêncio!Meus pensamentos têm som de silêncio... há vida na noite madura de mortes diárias,o dia nasce e morre, ou dorme?À noite também?E, eu e você?O tempo, este líquido composto de anos, meses, horas, imagens, sabores, cheiros, sons... umedece nossos poros,em delicados movimentos,lentos...nos rouba suavemente com um beijo gélido e abrupto, o sopro da vida...rouba-nos gota a gota,de dentro dos nossos corpos,das fotografias,das conversas entre amigos,das gargalhadas em família,nos rouba de nós...de tudo,pouco a pouco,gole a gole...por fim somos dissipados,transformados,diluídos na composição do tempo...