Olhando o copo, que em uma tentativa infeliz quis ser morada para um raio de sol, percebera que o objeto envolvido naquela imensidão solitária transbordara seu vazio para dentro da inquietude desnutrida dos seus olhos. Agora, o vazio também habitava seu corpo e o empapuçava com a fome que lhe mastigaria o silêncio.
Não havia ausência, era só vazio...
O copo parecia inconsciente do seu estado de coisa, não parecia incomodar-lhe o vazio que brincava de esconder-se todas as vezes em que a estiagem emprestava-se à seu corpo.Olhara desapontado ao notar que durante este continuar numérico nunca,de fato,tivera engolido o tal vazio que transbordara estas inquietudes para fora daquele copo que ele beijava, ritualisticamente, em tempos de seca.Na efemeridade daquele instante , morto antes mesmo de ter consciência da vida,arranjou por entre as penumbras de um pensamento a flor de um questionamento.Pensara naquele rasgo que talvez ele ,juiz compadecido,ele sim ao longo destas fatias de tempo, jamais fora atravessado pelo cheiro da vida.Talvez ele,que velava a inconsciência do objeto, habitava ingenuamente o universo da inexistência.Talvez, enquanto gastava seus olhos contemplando a infelicidade do copo,talhava uma confortável cegueira,decúbito, em seu colchão de certezas.
O copo, compadecido daquela montanha de carne observava, piedoso, aquele resumo de vida, forjado para apenas esquecer.